quinta-feira, 26 de abril de 2012

CPI do Cachoeira
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Sucesso à sombra do poder público Fernando Cavendish multiplicou faturamento da Delta a partir de ação agressiva no mercado e do trânsito com políticos 

Fernando Cavendish fez sucesso à sombra do poder público

Empresário multiplicou faturamento da Delta a partir de ação agressiva no mercado

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Cavendish criou estratégia da Delta nas licitações: preço abaixo do mercado e aditivos posteriores
Foto: O Globo / Marco Antonio Cavalcanti
Cavendish criou estratégia da Delta nas licitações: preço abaixo do mercado e aditivos posteriores O Globo / Marco Antonio Cavalcanti
RIO - Prestes a completar 49 anos, viúvo e bon vivant, Fernando Cavendish, depois de 22 anos à frente da Delta Construções, viu o patrimônio líquido da empresa aumentar de R$ 50 milhões, em 2001, para R$ 1,1 bilhão, no ano passado, uma variação de 804%, em valores corrigidos, resultado no mínimo invejável para a carreira de qualquer investidor. O estilo do pernambucano, que gerencia empresas de forma peculiar para a praxe do mercado, inclui o bom trânsito entre políticos, como o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), de quem é vizinho em um condomínio em Mangaratiba.


A Delta tem, atualmente, 100% de seus contratos com o poder público. Há 195 obras da empreiteira em andamento no país, e braços dela em 23 estados. Só no Rio, em 2011, o volume de recursos para a Delta foi de R$ 1,4 bilhão.
Foi no Rio que Fernando Cavendish construiu sua carreira. E é daqui o jeito de carioca que mantém. As irmãs também atuam na cidade. Em Ipanema, surgiu a grife de roupas femininas Cavendish, fundada por Paula e Carla, irmãs de Fernando. Hoje, apenas Carla permanece no negócio, que não tem participação do empresário. Engenheiro civil formado, Fernando assumiu o Conselho de Administração da Delta em 1990. E, em 1995, transferiu a matriz para o Rio.
Criada em novembro de 1961, em Pernambuco, pelo pai de Cavendish, Inaldo Soares, a Delta começou a crescer também no Rio. Ainda na gestão do ex-governador Anthony Garotinho, as obras de pavimentação feitas pela empreiteira no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foram investigadas por suspeita de favorecimento. Para tentar preservar o capital da empresa, Cavendish comunicou nesta quarta-feira o seu afastamento da presidência e do conselho diretor da Delta. Ele, no entanto, continua sendo o sócio majoritário da construtora, investigada pela CPI do Cachoeira. O grupo tenta, com isso, sinalizar que as acusações não afetarão os compromissos assumidos com órgãos públicos. Só no governo federal, houve, de 2007 a 2011, um crescimento de 1.417% no volume de recursos destinados à Delta, em valores corrigidos. Nesta quarta-feira, o ex-diretor da Delta Centro-Oeste Cláudio Abreu foi preso durante a operação Saint Michel — extensão da Monte Carlo, que resultou nas denúncias contra o contraventor Carlinhos Cachoeira e vários políticos.
Fora dos padrões de atuação de grandes empreiteiras, a Delta criou um modus operandi: cada obra da empresa costuma ter um gestor, com administração e CNPJs próprios. A prática comum nas licitações foi sempre concorrer com valores abaixo do mercado. E, posteriormente, apresentar aditivos aos contratos, aumentando o valor original.
A aproximação com Garotinho o levou também a migrar para o grupo de Cabral — a quem o atual deputado federal do PR apoiava. Eleito em 2006 e reeleito em 2010, o governador também facilitou o acesso da Delta ao governo Dilma. Se é bonachão nas relações pessoais, Cavendish é considerado firme e centralizador no trabalho. Em 2008, o empresário criou uma holding, a DTP Participações e Investimentos. Ali, ele concentra a gestão das empresas do grupo — Delta Construções, Delta Energia, Delta Incorporação e Delta Montagem Industrial. A DTP tem 99% do capital da Delta Construções. A diretora e principal representante da holding é Ligia Maria Soares Silva, tia de Cavendish, irmã de seu pai, e professora de uma escola de ensino médio na cidade de Salgueiro, no sertão do Espírito Santo. Hoje, a Delta tem 432 filiais e trinta mil empregados. A empresa é majoritariamente de Cavendish. Um outro sócio, a Fort Investimentos, tem sócios em comum com a empreiteira Queiroz Galvão.
Cavendish foi casado por um ano e meio com Jordana Kfuri, com quem teve filhas gêmeas. Jordana morreu em 17 de junho de 2011, em um acidente com outras seis pessoas. A tragédia trouxe à tona detalhes da amizade entre Cavendish e Cabral: todos iam para a festa de aniversário do empresário, inclusive Cabral, que não embarcou no voo porque estava lotado.
Ao visitar a redação do GLOBO, em março de 2009, para dar respostas a uma reportagem que abordava o crescimento da empresa e irregularidades em contratos, Cavendish pediu para não ser fotografado. Durante a entrevista, admitiu que a Delta doou recursos para campanhas políticas. A prática, segundo ele, havia sido interrompida em 2006 porque prejudicaria a imagem da empresa. A promessa, porém, não foi cumprida. A empreiteira fez doações nas eleições de 2010.
“A leitura disso tem sido muito ruim, mas é a forma correta de fazer. Mas temos evitado porque não nos baseamos nisso para crescer. Nosso cliente chama-se governo, que passa pelos processos eleitorais. A proximidade com essa realidade é diária, você tem inaugurações, visitas a obras. É normal. Mas a leitura é de retribuição de favorecimento. Então, estou fora”, afirmou em 2009.
A resposta é bem diferente do que mostrou gravação divulgada pelo site “Quid Novi”, há cerca de duas semanas, na qual Cavendish fala dos milhões necessários para abrir portas com políticos. O site é produzido pelo jornalista Mino Pedrosa, que já prestou serviço ao contraventor Carlinhos Cachoeira. “Se eu botar 30 milhões na mão de um político, eu sou convidado para coisa para caralho. Pode ter certeza disso. Te garanto” disse Cavendish. A Delta alegou que a gravação é clandestina e que o trecho divulgado foi editado.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/fernando-cavendish-fez-sucesso-sombra-do-poder-publico-4738619#ixzz1t9ZkvhfX
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FONTE O GLOBO

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