Rio -  O empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construção, não faz mais parte da direção da empresa desde ontem. Ele deixou a presidência do Conselho de Administração no mesmo dia em que a Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal prenderam Cláudio Abreu, ex-diretor da firma para a região Centro-Oeste e apontado como um dos integrantes do grupo do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira — o vereador Wesley Silva (PMDB), de Anápolis (GO), também foi preso.
Cavendish foi substituído por Carlos Alberto Verdini, que já passou pelas construtoras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão e está na Delta desde 2003. Ontem à tarde, ele foi ao Congresso levar documentos da firma à CPI mista que vai levantar as atividades do contraventor. Instalada ontem, a CPI do Cachoeira requisitou ao Supremo Tribunal Federal, à Procuradoria Geral da República e à Policia Federal (PF) documentos das investigações das operações Monte Carlos e Vegas, que resultaram na prisão de Cachoeira, em fevereiro.
Carlos Pacheco deixou a direção-executiva da Delta, que será assumida por Edyano Bittencourt. Na prática, Cavendish e Pacheco abandonam as funções diárias na empreiteira. A empresa emitiu nota informando que os dois optaram pelo licenciamento para que a firma possa fazer auditoria em todos os seus escritórios no País para verificar a veracidade de supostas ligações entre a construtora e Carlinhos Cachoeira. Segundo a nota, o afastamento de Cavendish e Pacheco seria para garantir “isenção nos procedimentos de auditoria”.
Empresário Fernando Cavendish deixa comando da Delta | Foto: Eduardo Knapp / Folhapress
Empresário Fernando Cavendish deixa comando da Delta | Foto: Eduardo Knapp / Folhapress
A suspeita de ligação com o bicheiro surgiu em gravações da PF. Abreu tentou convencer Cachoeira a aceitar Pacheco numa parceria para construções do programa Minha Casa, Minha Vida. Abreu também pergunta se Cachoeira gostaria de se encontrar com Cavendish.
A nota afirma, ainda, que a Delta “foi envolvida nesses lamentáveis episódios por atos de um diretor da empresa, afastado dia 8 de março, até então responsável pela Diretoria do Centro-Oeste” e também que “tais atos eram inteiramente desconhecidos pela administração desta empresa”. “A Delta, para proteger a imagem, concentra os problemas em Abreu”, avalia um analista de mercado.
Depende do desempenho
O prefeito Eduardo Paes afirmou ontem que não há indicação de que a Delta vá descumprir os contratos com a prefeitura. “As obras continuam avançadas. Uma delas é a construção da Transcarioca. Nela, o contrato determina que, caso uma empresa abandone a obra, a outra assume a responsabilidade pela finalização”, disse o prefeito, referindo-se à Andrade Gutierrez.
Situação parecida ocorre no Comperj, outra obra na qual a empreiteira está envolvida.
“Estamos analisando essa situação da Delta há algum tempo. Como qualquer outra empresa que faz parte do consórcio do Comperj, se não tiver bom desempenho, sai do contrato. E as outras que permanecerem terminam a obra”, afirmou a presidenta da Petrobras, Graça Foster. Na sexta-feira, a Delta deixou o consórcio das obras de reforma do estádio do Maracanã.
Empresário é amigo do governador há 10 anos
A amizade entre Fernando Cavendish e o governador Sérgio Cabral tem pelo menos 10 anos e começou por intermédio de suas respectivas mulheres, Adriana Ancelmo e Gabriela Carvalho, primeira esposa do dono da Delta. No entanto, a forte ligação dos dois só ganhou as manchetes após o acidente de helicóptero que matou Jordana Kfuri, segunda mulher de Cavendish, o filho dela, Luca, a namorada de um dos filhos de Cabral e outras quatro pessoas em Porto Seguro, em junho.
Cavendish é filho do empresário Inaldo Soares, que fundou a Delta em 1961. No início, a empresa se dedicava à construção, conservação e restauração de rodovias no Nordeste. Cavendish veio ainda jovem de Recife para o Rio, onde estudou engenharia na Faculdade Veiga de Almeida entre 1986 e 1990. Após formado, aos 27 anos, assumiu o Conselho Diretor da Delta, em dezembro de 1990. Cinco anos depois, ele transferiu a matriz da empresa para o Rio.
É irmão de Carla e Paula Cavendish, donas de uma grife de moda que leva o nome da família.


FONTE JORNAL O DIA