sábado, 3 de março de 2012

CRISE NA SEGURANÇA PÚBLICA


A imprensa toma partido

Por Marcio Bastos em 14/02/2012 na edição 681
Greves policiais, descaso do governo, imprensa comprada e chefe bem pago – eis os quatro principais ingredientes para transformar em caos público qualquer estado do Brasil.
Todos sabem o quanto é importante manter um policial bem preparado para realizar segurança pública com qualidade. Exige-se treinamento e perfeição, mas todos esquecem que seu baixo salário lhe traz o câncer da desmotivação; em alguns casos, tira-lhe a dignidade maior de um ser humano: prover sua família de condições de vida razoável. No Brasil, policiais e bombeiros trabalham exaustivamente, mostram resultados e passam pelo atual crivo das corregedorias – que expulsam os maus profissionais e nunca – nunca – os bons profissionais são valorizados.
Os policiais, então, iniciam uma negociação por melhores condições de trabalho. Primeiro em nível nacional, com a chamada PEC 300 (Proposta de Emenda Constitucional), que prevê isonomia salarial para policiais militares, bombeiros militares e policiais civis de todo o país. Após intensas promessas, discussões e votações em volta da PEC 300, que começou há quatro anos com tramitação especial, os governos Lula e Dilma, com a ajuda da maioria dos políticos do Congresso Nacional, engavetaram o projeto e enrolaram os profissionais de segurança.
Em conjunto aos fatos resumidamente narrados, começam os movimentos reivindicatórios estaduais. Os governos começam uma política de valorização das altas patentes. Oficiais do alto escalão e delegados de polícia têm seus salários aumentados para utilizar de seu poder de persuasão e segurar a tropa. Um dos maiores exemplo é o Rio de Janeiro, onde um delegado chega ao topo salarial do estado, em torno de R$18.000, e os policiais civis recebem o mais baixo salário pago a um profissional de terceiro grau do estado, em torno de R$2.300. Os “chefes” não seguram a tropa e a indignação aumenta, pois os policiais e bombeiros que trabalham pelos “chefes” se sentem desprestigiados. Em 2009, começam os principais movimentos policiais por melhorias.
Uma única voz no silêncio jornalístico
O menosprezo aos profissionais de segurança pública continua ao longo dos anos de 2010 e 2011. Alguns poucos estados dão o exemplo: Piauí, Ceará, Paraíba e Sergipe, onde o policial civil inicia com um salário justo de R$4.900, conseguem resolver internamente seus problemas com a segurança. Porém, a grande maioria dos estados brasileiros enrola, finge que negocia, utiliza-se do poder público para eliminar qualquer foco de revolta e conta com o apoio da imprensa para não publicar qualquer esboço de reivindicação salarial.
O maior exemplo foi a revolta dos bombeiros do Rio de Janeiro, no ano passado, a qual fez uma “maré vermelha” tomar conta do Brasil e do mundo. Mas não sensibilizou o governo do estado, que preferiu minar o movimento em vez de negociar, contando mais uma vez com a imprensa local. A indignação dos policiais e bombeiros aumenta ainda mais.
Atualmente, o poder dos governos sobre a imprensa chegou ao ápice: o repórter Valdeck Filho, do programa Na Mira, da TV Aratu, filiada ao SBT, recebeu um anúncio de demissão das mãos de um diretor da emissora na Bahia por ter feito a cobertura da greve dos policiais militares. Já no Rio de Janeiro, uma grande marcha conjunta da segurança pública teve matérias publicadas nos principais jornais internacionais, como o New York Times e o Financial Times, e a imprensa local não publicou quase nada. Nesse ponto, uma ressalva se faz por justiça. No Brasil, apenas a TV Record (Rio), pro meio do apresentador Wagner Montes, teve a audácia de realizar matéria sobre a marcha histórica e traçar comentários diários sobre o movimento em seu programa televisivo. Uma única voz no silêncio jornalístico. A indignação dos profissionais de segurança volta a aumentar.
[Marcio Bastos é policial civil do Rio de Janeiro e diretor jurídico adjunto do Sindpol RJ – Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro
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